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10/05/2024 → 07/09/2024

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A arquitetura frequentemente utilizou a ruína ou a sua metáfora para questionar a própria disciplina. Mesmo distantes no tempo, tanto arquitetos (Kahn, Superstudio, Isozaki, Palladio, Piranesi…) como artistas (Gordon Matta Clark, Richard Serra) encontraram exatamente na reencarnação da ruína o seu próprio pensamento conseguindo capturar a força criativa da ruína, sendo uma arquitetura nua ou uma forma pura. Noutras palavras “forma e não-forma”. A arquitetura da ruína também é não-arquitetura, sendo um elemento arquitetónico definível até mesmo pela sua negação.

O Superstudio, com o Monumento Contínuo, idealiza a ruína que questiona a contemporaneidade. O Monumento Contínuo nada é mais do que a representação da ruína ou da não-ruína. Uma arquitetura muda que não tem acessos e não tem interior, não tem fachada e o exterior é apenas um volume com uma grelha de quadrados. O objeto anti moderno e anti consumista é a imagem de uma ruína. O monumento contínuo confronta-se criticamente com o mundo contemporâneo fechando todas as portas e janelas para o exterior. A ruína também se confronta criticamente com o mundo e empreende um caminho de reconstrução do antigo teorizando formas e usos, onde a arquitetura do monumento contínuo pode ser definida como prática conceitual, enquanto as ruínas são prática teórica e lógica.

Os grupos radicais podem declarar o fim da arquitetura como instrumento de alienação política e como sistema de representação, enquanto a ruína representa a si mesma. O monumento contínuo é um “modelo arquitetónico de urbanização total” onde a dimensão figurativa da arquitetura é aniquilada pela grelha, que é um modelo cartográfico assimilável às grelhas que mapeiam as áreas de escavação. Na superfície, a grelha cobre todo o solo e, ao fazer isso, a noção de escala e dimensão desaparece.

O Monumento Contínuo parece hostil ao homem, enquanto a ruína é um abrigo natural.
G.B. Piranesi, nas suas vistas de há cerca de três séculos, realiza uma operação de síntese entre ruínas. Como elementos primários da nova arquitetura, os seres humanos, intrinsecamente ligados aos objetos dentro da gravura e o observador como figura externa à gravura. Todos eles elementos para as suas invenções.

Através do passado, consagramos a nós mesmos e ao mundo que construímos.

Salvatore Settis, no seu livro “O Futuro do Clássico”, escreve: “[…] O recurso intermitente e periódico às formas do clássico, tanto para entender o passado quanto em função do presente, que vemos encenar-se em cem variantes desde quando a própria cultura grega consagrou-se promovendo o culto do passado…”.

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