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28/03/2024
→ 04/05/2024Time Machime, examina a predominância de ontologias antropocêntricas de percepção e propõe, tal como o seu corpo de prática mais vasto, que a arte e a prática artística têm os meios para visibilizar o que é de outra forma imperceptível. Partindo da arte estática tradicional, esta exposição integra fotografia, movimento, som interactivo e elementos radiofónicos. O trabalho, que estabelece uma conversa com o espaço físico do aqui e agora, também pulsa com efeitos sonoros e visuais dinâmicos, oferecendo uma viagem sensorial que se estende para além dos limites do espaço da galeria. Time Machine constrói-se sobre trabalhos anteriores de Igor Jesus, incluindo Poem of Fire (2021), onde misturou música clássica e electrónica com luz e actividade astrológica. Inspirado na obra inacabada do compositor russo Alexander Scriabin (1871-1915), Poem of Fire explorou a modelação do som a partir do visual, utilizando uma base de dados da NASA para traduzir os impulsos solares em música. Ao inspirar-se em experiências anteriores, Time Machine convida os espectadores a envolverem-se com uma escultura viva, um espaço de meditação, um espaço de liminaridade, através de um tipo de discurso diferente. A capacidade do artista para traduzir estímulos visuais em experiências auditivas cria um encontro sinestésico, desafiando as noções convencionais de visão artística. Dada a fidelidade à sua prática fundamentada na investigação, a instalação funciona como uma progressão natural de um tipo de exploração que, simultaneamente, ultrapassa os limites da expressão e do envolvimento do público e cria novo material discursivo e epistémico no campo da percepção. Por último, ao enquadrar os elementos multissensoriais da peça na Galeria Antecâmara, é possível imaginar que a narrativa de Jesus infunde os espaços vazios da arquitectura do edifício, ao mesmo tempo também que, devido às janelas exhibitionism-ready do espaço, se alonga para além dos confins da galeria. Seria uma tentativa laboriosa de definir o limiar entre o interior e o exterior, onde termina verdadeiramente a pele da obra de arte. Em vez disso, Time Machine serve-se a si próprio como uma experiência tradutória e transitória com um fenómeno mais do que humano.
Esta é a segunda das três exposições na Antecâmara, parte de “AYNI. TEOREMAS DA RECIPROCIDADE”, um conjunto de cinco project rooms na Brotéria, Antecâmara, HANGAR e Universidade Católica Portuguesa que apresentará obras de Rita Ferreira, Igor Jesus, LANDRA (Sara Rodrigues e Rodrigo Camacho), The Third Thing (Nithya Iyer e Vlad Mizikov) e Jabulani Maseko.
Curadoria dos estudantes do programa de mestrado e de doutoramento em Estudos Culturais, The Lisbon Consortium, Universidade Católica Portuguesa. Com o apoio da República Portuguesa – Cultura | DGARTES – Direção-Geral das Artes.
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